EP6: O que é a Estratégia do Pozinho?
Entenda como contornar eventos extraordinários do mercado.
Aproveitando a queda abrupta na B3 para trazer um assunto que pode interessar. A chamada estratégia do "pozinho" consiste em operar opções OTM (bem fora do dinheiro) com probabilidade muito baixa de serem exercidas, com custo ínfimo, a preço de poucos centavos. É como comprar um "bilhete de loteria" e esperar que ocorra um evento excepcional no mercado (ou com um ativo específico) para lucrar com isso.

São eventos raros (chamados de Cisnes Negros), pois na maior parte do tempo o mercado e as empresas sofrem oscilações razoavelmente previsíveis. Se considerar que tudo sofre uma regressão à média (fica em torno dela), com uma volatilidade histórica conhecida, é muito difícil de se ter uma surpresa tão grande. No Brasil, uma economia pouco desenvolvida, qualquer que seja o governo, isso nem sempre é verdade. 🤣🤣🤣
Vou usar a BBAS3 que foi uma ação muito cobiçada no final do ano passado, usando preços ilustrativos, por causa de um split que ocorreu em certo momento de 2023: vamos supor que a média de preços dela seja de R$ 25 e tenha um desvio (volatilidade diária) de R$ 1,25:
68,2% dos dias a ação vai variar entre R$ 23,75 (R$ 25 - R$ 1,25) e R$ 26,25 (R$ 25 + R$ 1,25). Essa é a variação de 1 desvio padrão;
95,45% dos dias a ação vai variar entre R$ 22,50 e R$ 27,50. Essa é uma variação de 2 desvios;
99,73% dos dias a ação vai variar entre R$ 20,50 e R$ 29,50. Essa é uma variação de 3 desvios;
Com esses dados apresentados, qual seria a probabilidade de BBAS3 terminar um pregão em R$ 16,00?
Diremos que é uma probabilidade muito menor do que 3 desvios padrão: P < (1 - 0,9973) ou P < 0,27%. A chance disso acontecer é muito pequena, de menos de 0,27%.
Sabendo disso, vamos supor que encontramos uma PUT de BBAS3, mais precisamente a BBASR200 (PUT) de strike R$ 16,07 e vencimento em 16/06/2023.
Se você tivesse comprado essa PUT em 11/04/2023, como pode conferir a seguir, teria pagado apenas R$ 0,01 nela:
https://opcoes.net.br/BBASR200
Por exemplo, compra de 200.000 PUTs ao preço de R$ 0,01.
Total da operação R$ 2.000 (200.000 PUTs x R$ 0,01 cada PUT).
Você acompanharia o preço dessa opção até próximo do vencimento (16/06/2023).
Se nada acontecesse nessa data, a sua aposta de loteria viraria pó (perderia os R$ 2000), o que não é muita coisa... Poderia tentar rolar também para o próximo mês, caso possível.
Mas e se acontecesse um evento excepcional no Brasil, com a BBAS3 que fizesse a ação cair para R$ 15,90 de um dia para outro e a opção entrasse no dinheiro (ITM)? Uma decisão do BACEN sobre taxa de juros, uma intervenção do Governo no Banco, a divulgação de um prejuízo grande, um escândalo político? Coisas que são muito difíceis de acontecer, não é mesmo? :D
Essa opção ITM prestes a vencer, sairia de R$ 0,01, que foi o que pagamos, multiplicando várias vezes o seu preço (Gama alto). Vamos supor que fosse para R$ 2,00 no dia desse infortúnio. O patrimônio de 200.000 x R$ 2,00 = R$ 400.000 em opções a vencer e especuladores desesperados para recomprá-las. Essa é a verdadeira “BET” dos ricos… 🤣🤣🤣
Você então zera a posição a R$ 400.000, deduz o seu preço de custo de R$ 2.000 e sai com um lucro da operação de R$ 398.000. Desconsideradas taxas de exercício e corretagem, você paga o Grande Sócio (gov.br), um DARF generoso de R$ 59.700 e fica com um lucro líquido de R$ 338.300. Nada mal, hein? Um retorno de 169 vezes investido em pouco mais de 20 dias úteis.
O problema é que eventos de cauda são extremamente raros... Suas opções podem virar pó ou precisar ser roladas vários meses ou anos antes de uma situação oportuna como essa ocorrer. Mas nada é impossível no Brasil: quem não se lembra do Joesley Day? E agora, recentemente com a troca do presidente do BACEN e a crise fiscal?
Opções apropriadas para aplicar:
Opções líquidas: escolha empresas líquidas, que você tenha certeza de que vai conseguir desmontar a posição;
Opere COMPRADO, seja PUT ou CALL, para limitar suas perdas. Embora seja possível fazer isso vendido também, se for lançador (vender uma CALL ou uma PUT), você assume uma obrigação. Neste exemplo, se vender 200.000 PUTs de BBAS3 e tiver o azar de ser exercido por R$ 25,00, você vai ficar devendo só R$ 5.000.000 para a B3 (contraparte). Pode até tentar vender essas ações no leilão, no final do pregão, mas a dor de barriga será séria... Quem sabe nem consiga executar essa compra por questões de margem ou gerenciamento de risco da corretora. Mas vai que você é rico, qualificado e a corretora te deixa seguir em frente... Dependendo da situação, você está acabado... Quando você compra uma opção (titular) não tem a obrigação de exercê-la. Se não conseguir vender para ninguém, viram pó e perderá só o prêmio que pagou (no exemplo que dei, só R$ 2.000).
Existem outras formas de fazer a mesma coisa com um risco menor ou adicionando mais pernas na operação. Mas isso exige ainda um maior cuidado e experiência.
Essa discussão é meramente educacional: tome bastante cuidado com suas operações. Confira todas as informações e busque auxílio de um profissional da sua confiança. Sempre bem orientado e nunca a descoberto.
Caso tenha se interessado pelo assunto “Sorte”, um livro que recomendo muito é Desafios aos Deuses: a Fascinante História do Risco, de Peter L. Bernstein.
Até a próxima!